Publicada em 20/06/2024 às 13h04 (atualizada há 20/06/2024 - 13:06)
As magistradas do trabalho Maria Odete Freire de Araújo e Mariana Milet, respectivamente, coordenadora e substituta na coordenação do Programa de Combate ao Trabalho Infantil e de Estímulo à Aprendizagem do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região, abriram as portas da Sala das Turmas (Pleninho) para receber uma turma formada por alunos do 8º ano do Colégio da Polícia Militar de Pernambuco. Na pauta do encontro, uma conversa sobre a "Exploração do Trabalho Infantil Doméstico no Brasil".
As expositoras foram a professora Sandra Suely Moreira Martins Lurine Guimarães, doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará – atualmente, vice-coordenadora do programa de pós-graduação em Direito da instituição. Na sequência, teve o depoimento da advogada e mestranda em Direito (UFPA) Alana dos Santos que, num depoimento emocionado, contou sua história de superação, iniciada criança como ribeirinha do longínquo Igarapé-Miri do Pará.
Na palestra da pesquisadora Sandra Lurine, a plateia, formada por alunas e alunos do Colégio da PMPE, foi reforçada a importância de combater o Trabalho Doméstico Infantil. A professora explicou as raízes históricas e sociais que ajudam a manter este tipo de exploração no Brasil, causando enormes danos para a escolarização e aniquilando a infância. Alertou que 98% desse tipo de exploração atinge meninas da etnia negra “guardando forte relação com resquícios do trabalho escravo”, alertou.
Educação salvando e transformando vidas – A advogada Alana dos Santos comoveu a plateia ao contar sua história de vida. Filha de um casal de extrativistas analfabetos, numa família de oito filhos, ela foi uma das vítimas brasileiras do trabalho infantil doméstico – que, no seu caso, com o tempo se transformou numa atividade de abusos psicológicos, análoga à escravidão.
Sua saga iniciou-se quando, ainda com 12 anos, se mudou para Belém, para morar na casa de uma senhora rica da capital, com a promessa de que iria estudar, apenas “ajudando” na casa da “tia”. Com o tempo, ela e outras duas irmãs menores, que percorreram idêntica trajetória, sofreram todo tipo de assédio moral e exploração laboral, sendo tratadas como empregadas domésticas, mas sem receber salários ou quaisquer tipos de direitos.
Mesmo enfrentando os obstáculos impostos pela “tia” para frequentar a escola, elas persistiram na saga pelo conhecimento, única forma de libertação daquela condição de trabalho humilhante a que se viram forçadas. “A grande virada de chave em nossas vidas foi a aprovação numa faculdade”, afirmou. Sempre que isso acontecia, elas eram expulsas das casas que antes prometiam acolhida em troca de educação.
“Graças ao nosso esforço e persistência, e ajudadas pelas ações afirmativas do governo, como as cotas e o Prouni, conseguimos vencer o ciclo de exploração”, comemora, atualmente orgulhosa e aliviada. Alana e as duas irmãs conseguiram, graças às bolsas do Prouni, cursar, respectivamente, Direito, Administração e Medicina. “Ninguém precisa passar por esse tipo de sofrimento e exploração para ter oportunidades para estudar. Espero fazer da minha fala uma escolha política de enfrentamento, no sonho pela erradicação do trabalho infantil no país”, concluiu Alana dos Santos, advogada, ativista, futura mestre em Direito e resgatada pela educação.
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Texto: Gutemberg Soares / Foto: Helen Moreira e Gutemberg Soares