Publicada em 29/07/2020 às 14h03
Confira abaixo o texto produzido pela Seção de Saúde Mental do TRT6 com dicas para enfrentar o período de isolamento social com mais autocuidado e autoconsciência. A unidade mantém serviço on-line de atendimento psicológico e orientação em coaching para magistrados, servidores e seus dependentes. Mais informações: saudemental@trt6.jus.br
IMUNIDADE E ESTRESSE: UMA REFLEXÃO QUE VALE A PENA FAZER EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS
Fomos pegos de surpresa!
De súbito, fomos convocados a mudar radicalmente nossa rotina. O que poderia se chamar de obsessivo e disfuncional do ponto de vista de saúde mental (lavar as mãos muitas vezes, não sair de casa nem pra ir à padaria, isolar-se socialmente), de repente, tornou-se recomendação médica. Criança sem ir pra escola, nem pensar? Agora é ordem! Fora isso, há os medos do contágio em nós e em nossos entes queridos e o estresse de estarmos lidando 24 horas com as crianças e com os parentes, todos com seus medos e suas aflições afloradas.
Se você está se vendo neste cenário, saiba que você não está só. É coletiva a questão de como lidar com este isolamento da melhor maneira possível.
É de todos nós!
Não obstante o cenário seja este, a forma de lidar com os fatos, a forma como se encara a situação é, sem dúvida, importante para agravar ou minimizar os efeitos de uma crise.
À medida que os dias de isolamento se passam, já assimilamos nossas novas obrigações com a higiene corporal, já acompanhamos gráficos e tabelas explicando a situação e finalmente o “fique em casa” atingiu muitos, até alguns teimosos. Ótimo! Temos que passar agora para outra fase, embora mantendo toda esta dinâmica de cuidados físicos.
Chegou a hora de refletirmos como anda a nossa higiene mental. No dia a dia, tão importante quanto escovar os dentes e tomar banho, é sanear nossa mente. Isso já é uma verdade em dias normais e merece mais atenção considerando todos os fatores estressantes a que estamos sendo submetidos nestes últimos dias e, ainda, a previsão de que esta situação vai durar por um tempo.
Pensando nisto, a Seção de Saúde Mental passará a dar dicas de como passar por este momento de isolamento e crise coletiva, prevenindo o adoecimento mental ou minimizando seus efeitos.
A primeira dica se refere a estarmos atentos e observarmos a relação entre o estresse e a imunidade.
Antes de tudo, necessário se faz definir o estresse, já que o uso popular desse termo passou a ser muito abrangente. Há uma confusão quanto ao enquadramento do estresse, pois de um lado podemos pensá-lo como sendo algo externo que nos acomete (Ex.: viver em época de coronavirus é um estresse) e de outro entendê-lo como sendo a forma como lidamos com este algo externo (com o coronavirus – e logo penso: estou estressado!).
O Dr. Hans Selye, primeiro a popularizar o termo estresse, através de estudos em 1950, definiu o estresse como sendo “a resposta não específica do organismo a qualquer pressão ou demanda”. Neste sentido o estresse seria a resposta e o estressor o evento que o produz. Kabati-Zin (professor Emérito de Medicina e diretor fundador da Clínica de Redução do Stress e do Centro de Atenção Plena em Medicina na Escola Médica da Universidade de Massachusetts.), em seu interessante livro “Vivendo a catástrofe total”, comentando esta definição assevera que nesta terminologia o estresse é a resposta total do organismo (corpo e mente) a qualquer contexto estressante vivenciado.
A questão torna-se mais complexa quando se observa que o estressor pode ser externo (uma situação como a pandemia) ou interno (os sentimentos e pensamentos da pessoa em relação à pandemia). (KABATI-ZIN, 2017).
Kabati-Zin (2017) enfatiza que “trinta anos antes do surgimento do campo da psiconeuroimunologia, Selye já sabia que o estresse podia comprometer a imunidade e, portanto, a resistência a agentes infecciosos”.
Os estudos mostram, cada vez mais, que “o estresse suprime a formação de novos linfócitos e a sua liberação na corrente sanguínea, além de encurtar o tempo de permanência na circulação dos linfócitos já existentes. Inibe também a produção de novos anticorpos em resposta aos agentes infecciosos e prejudica a comunicação entre os linfócitos (...). Tudo isso é causado por estressores dos mais variados tipos, físicos e psicológicos” (SAPOLSKY, 2008)
Então, além de todos os cuidados físicos, torna-se muito importante cuidarmos, neste período, dos nossos pensamentos, sentimentos e emoções. Procurarmos refletir que medidas estamos tomando ou deixando de tomar que favorecem ou não os estressores a se manifestarem também é uma forma importante de combater o coronavírus.
MEDIDAS PARA ADMINISTRAR O ESTRESSE EM TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL
- Crie uma rotina. Procure organizar o horário de acordar, de dormir, de fazer as principais refeições, de trabalhar (caso esteja em teletrabalho), de cuidar das crianças, de organizar a casa, de dar um tempo para si mesmo, etc. O seu organismo físico e a sua saúde mental ganham muito em qualidade com esta atitude. Claro que exceções podem existir. Mas, de forma geral, tenha uma rotina.
- Evite passar muito tempo do seu dia colhendo muitas informações sobre o coronavirus. Destine um tempo para este fim, mantenha-se informado, mas sem exageros. O excesso de informações não ajuda quando o assunto é estresse. Se sentir que as informações estão lhe afligindo muito, pode parar de procurar por informações, pedindo a algum parente ou amigo para lhe informar apenas algo mais relevante que exija de você alguma atitude (ex.: é recomendado se vacinar! Ou, houve mudança nas determinações que vão afetar as orientações do seu trabalho!)
- Evite passar muito tempo conectado a aparelhos eletrônicos. Eles podem ser nossos aliados pois podemos assistir a um bom filme, fazer vídeo-chamadas para os que amamos e tivemos que nos distanciar, mas o uso excessivo de celulares, computadores e televisão contribuem para um maior nível de estresse.
- Procure se manter ocupado, mas sem exageros. Sentir-se ativo, produtivo, faz muito bem! O ócio, quando não criativo ou o sono em excesso não são boas estratégias de diminuir o estresse.
- Tire um tempo para relaxar, descansar, parar. O excesso de tarefas, o estar muito atarefado todo o tempo, também aumenta o estresse. Deve haver um equilíbrio entre o se manter ocupado e o números de intervalos para descanso. Para os que apreciam, meditar ou fazer orações são ações muito importantes.
- Se faz uso de algum medicamento contínuo ou algum tipo de tratamento, não se esqueça dele neste período de isolamento. Também é importante se alimentar bem, sem esquecer dos alimentos ricos em vitamina c e nutrientes importantes ao bom funcionamento do sistema imunológico.
- Se tiver angustiado, não fique calado. Peça ajuda. Converse com alguma das pessoas que estão na sua casa , se houver e se se sentir à vontade. Ligue para um amigo ou um parente, caso não se sinta à vontade de desabafar com seus familiares que estão no mesmo ambiente que o seu. Se necessário procure ajuda psicológica!
- Tenha calma diante de conflitos. Considere que, com a situação, todos estão mais suscetíveis a desentendimentos. Tenha calma, e, na medida do possível, assuma uma atitude conciliatória, sem contudo se culpar quando não é possível.
- Pratique Mindfulness (atenção plena)! Posteriormente, vamos dar orientações para aqueles que se interessarem em conhecerem ou aprofundarem sobre esta prática.
- Guarde uma atitude de gentileza não só para com os outros mas também para si próprio.
- Procure não tomar decisões muito importantes (casar, separar, mudar radicalmente algo importante). O estresse vivenciado , no momento, pode criar cenários que serão passageiros.
- Se você próprio ou alguém de sua família se encontra com o COVID-19 ou ainda com suspeita, lembre-se que muitos nesta situação tiveram êxito nos tratamentos e se curaram. Tome todas as providências, procurando não se desesperar.
FORAM UTILIZADOS NA CONSTRUÇÃO DESTE TEXTO OS SEGUINTES LIVROS
1)POR QUE AS ZEBRAS NÃO TÊM ULCERAS (Robert M. Saposky -2007)
2)VIVER A CATÁSTROFE TOTAL (Como utilizar a sabedoria do corpo e da mente para enfrentar o estresse, a dor e a doença)(JON KABAT-ZIN – Edição de 2017)