Publicada em 27/09/2019 às 16h34
O Memorial da Justiça do Trabalho recebeu na tarde dessa quinta-feira (26) a professora de história da Universidade Federal de Pernambuco Cristine Dabat, a juíza do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT6) e mestre em história Renata Nóbrega, o mestre em história Ademir Bezerra e o servidor do TRT6 e professor de linguística Eugenio Jerônimo para abordarem o tema O fazer jurisdicional e a importância da preservação da memória. Em formato de roda de diálogo, o evento foi mediado pela diretora do Memorial do TRT6, historiadora, Dra. Marcília Gama.
A professora Cristine Dabat abriu o debate mostrando que a discussão entre que fontes materiais guardar e entre quais materiais descartar, tem em vista a realização de futuras pesquisas, é uma questão antiga. Referindo-se ao caráter meio fortuito que garantiu a permanência da estrutura da Catedral de Notre Dame – graças ao clamor com o sucesso do livro O corcunda de Notre Dame –, ela mencionou que uma decisão em contrário teria nos privado de conhecer aspectos da história da sociedade da época, por meio da arquitetura e ressaltou o acerto do TRT6 de “salvar” o acervo de processos trabalhistas, em convênio com a UFPE. “Os arquivos podem nos ensinar muito”. Numa alusão à atividade econômica canavieira, na Zona da Mata, e às ações ajuizadas na varas da região, a professora perguntou: “Quem são esses trabalhadores? Qual seu nível de escolaridade? Qual a importância da mulher nessa atividade? Se soubermos perguntar, os processos nos darão respostas completas”, finalizou.
Em sua fala, a juíza e mestre em história Renata Nóbrega pontuou que “a memória é um espaço de luta”, no sentido em que as interpretações dos fatos não se consolidam para sempre, estando sujeitos a uma disputa de versões e reinterpretações.
Renata Nóbrega lembrou o esforço do Tribunal quando criou o selo da memória, em 2009, para identificação de processos com conteúdo de interesse histórico, que deveriam ser separados para compor o acervo à disposição de pesquisadores. Com o advento do processo eletrônico, o que faz toda diferença para o armazenamento, a historiadora mencionou que é preciso enfrentar questões ainda desconhecidas para salvaguardar a história das relações sociais e econômicas desse período, contidas nas reclamações trabalhistas, agora configuradas na plataforma digital.
Com um percurso ascendente, já que chegou ao Memorial da Justiça do Trabalho como estagiário, tornou-se pesquisador do acervo, de que se serviu para fazer mestrado, e está em fase de seleção para o doutorado, usando também os dados do acervo como corpus, Ademir Bezerra destacou a riqueza do Memorial para se investigar as relações entre política, produção econômica e democracia.
Mestre em linguística, o servidor da Divisão de Comunicação Social Eugenio Jerônimo mostrou como a estrutura e a linguagem de textos integrantes de processos ajuizados ao longo dos anos 60 nos dizem a respeito das relações de poder entre trabalhadores rurais e proprietários da indústria canavieira. Um exemplo citado foi o fato de usinas adotarem formulários para trabalhadores pedirem “voluntariamente” rescisão de contrato, abrindo mão da estabilidade.
A professora Marcília Gama, diretora do Memorial da Justiça do Trabalho, rememorou os esforços feitos pelas sucessivas administrações do TRT6, o que permitiu que o acervo de processos atingisse a condição de museu, tivesse parte de seus documentos – dissídios coletivos – reconhecida pela Unesco como patrimônio da humanidade e integrasse as programações do circuito dos museus.