Publicada em 29/11/2019 às 12h20 (atualizada há 29/11/2019 - 12:21)
Com a participação do renomado escritor, teólogo, filósofo e professor Leonardo Boff, o Grupo Interinstitucional de Prevenção de Acidentes de Trabalho da 6ª Região (Getrin6) realizou, na tarde dessa quarta-feira (27), o encerramento do VI Congresso Pernambucano do Trabalho Seguro. No decorrer de três dias, com a realização de conferências, palestras e painéis, foram discutidos assuntos relacionados aos direitos, saúde e bem-estar dos trabalhadores, integrando a temática desta edição: “Agenda 2030 da ONU para o desenvolvimento sustentável: do enfrentamento às boas práticas contra violências no trabalho”.
Palestras – A última tarde do congresso foi iniciada com a palestra “No pain, no gain. Reflexões sobre as contradições do trabalho que alimenta e adoece”, apresentada pela professora e doutora em Direito pela UFPE Fernanda Barreto Lira. Em seguida, foi realizado um painel. Nele, a advogada e deputada (mandata coletivo Juntas), Robeyoncé Lima, expôs o tema “Dificuldades de inserção das pessoas LGBTI no mercado de trabalho”. Também participaram do painel de encerramento a advogada, mestre em Direito de Trabalho (FDR-UFPE) Bianca Dias e a mestre em Psicologia pela UFPE professora Patrícia Amazonas.
Um dos idealizadores e maior expoente da teologia da libertação no país, doutor em Teologia pela Universidade de Berlim, e conhecido internacionalmente por sua defesa dos direitos dos pobres e excluídos, Leonardo Boff proferiu a conferência final do congresso, propondo o tema “Paz, justiça e eficácia: humanização no trabalho”. O convidado foi apresentado pelo diretor da Escola Judicial, desembargador Ivan Valença.
Conferência – Leonardo Boff iniciou elogiando a coragem de alguns palestrantes do congresso, que não se furtaram em denunciar o sofrimento pelo qual vem passando o povo brasileiro. “Não dá para entender o atual momento da crise, olhando somente de dentro. Fazemos parte de um contexto global maior”, provocou. Citando a atual agenda e preocupações do papa Francisco, defendeu que em breve toda a economia passará pelo tema da ecologia. Fazendo alusão ao G7 (grupo das sete maiores economias do mundo), defendeu que o Brasil tem tudo para ser o G Zero, pela sua vital importância para o futuro da humanidade, e para o que chamou de “sistema terra”.
Mencionou os graves perigos que nos rondam: aquecimento global, ameaça de novos conflitos nucleares, automação exacerbada sem a preocupação com o elemento humano, precarização dos direitos e do sistema de proteção dos mais pobres. Defendendo a colaboração que o Brasil pode dar ao mundo, propôs que sejam imaginados outro tipo de sociedade e outra forma de produção, para superar a atual crise do capitalismo. “Vivemos uma nova fase da terra e da humanidade. O tempo das nações passou. Temos que construir a terra como ‘casa comum’, termo presente em recente encíclica do papa Francisco”, afirmou.
Um dos redatores da Carta da Terra – declaração de princípios éticos fundamentais para a construção de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica, publicado no ano 2000 como carta dos povos –, Boff explicou que o termo “meio ambiente” foi substituído por “comunidade de vida”. “Para que a terra continue produzindo vida, é preciso respeitar e cuidar da comunidade de vida”, defendeu. Como segundo tema de preocupação, falou da emergência de novas tecnologias e a extremada automação, que, na sua concepção, torna supérfluo o trabalho humano. Para o pensador, a política brasileira atual se traduz na destruição e na completa demolição de todos os avanços sociais das últimas décadas. “Devemos resistir, honrando as várias vidas que foram ceifadas para que pudéssemos ter alcançado estas conquistas”, conclamou.
Para explicar a nova crise do capitalismo, lembrou as teorias ultraliberais gestadas, no século XX, por economistas das escolas de Viena e de Chicago. Para o teólogo, a atual violação das leis e da própria Constituição seguem este ideário. “Proclamam o Estado mínimo e o direito de propriedade como único e absoluto. Os pobres são reduzidos a indivíduos que perderam a competição com o outro. Para estas teorias, a pobreza se reduz a um defeito técnico”, alertou. Para os seguidores do neoliberalismo ultrarradical, “não há política social, não há pobreza, não há povo”.
Por fim, confessou não esperar nada do “grande sistema”. Relembrando o papa Francisco, defendeu uma nova economia, baseada em 3 tês: trabalho, terra e teto. Defendeu uma nova democracia: popular, solidária e ecológica. E uma economia, que deve ser voltada para a vida. Falou da criação de uma nova justiça social, “pois sem ela, nunca haverá a paz”. Defendeu, também, o que definiu como “uma sociedade biossustentada, que coloca o ser humano, e não o mercado de consumo, como o centro de suas preocupações”.
Por fim, falou de esperança e de um novo humanismo, calcado no sentido de solidariedade, do cuidado, da corresponsabilidade social e humana, e de uma nova dimensão ética. “Todos os seres devem ser respeitados pelos valores intrínsecos que possuem”, ensinou. Citando Santo Agostinho, lembrou o amor, a fé e a esperança. Destacando esta última virtude, por ser a esperança irmã da indignação e da coragem. “Não podemos perder a esperança. Esta crise vai passar’, finalizou, sendo aplaudido de pé pela plateia que lotava o auditório da Fafire.
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Texto: Gutemberg Soares
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