Publicada em 28/07/2022 às 09h25 (atualizada há 28/07/2022 - 13:45)
Desembargador Fábio Farias
Por uma administração centrada na pessoa
Uma das características relevantes da tecnologia aplicada ao trabalho é que ela sempre atua no sentido de economizar esforços humanos. Expliquemos um pouco mais. Não se trata de dizer que a introdução de um determinado equipamento e/ou processo de trabalho pelo ser humano é necessariamente boa..., nem necessariamente ruim. Ressalte-se ainda que, por tecnologia também estamos pensando em transformações nas próprias relações entre os homens.
A pá otimizou o processo de escavação e de colocação de produtos de um lugar a outro e isso pode não ser óbvio para quem não precisa cavar trincheiras, mas, certamente o era para um soldado durante a Primeira Grande Guerra. No entanto, o modelo de administração científica preconizado por Frederick Taylor por certo também otimizou o uso da pá estabelecendo, por meio de seus princípios, um planejamento, o preparo dos trabalhadores, o controle do desenvolvimento do trabalho e regras de execução para que as atribuições e responsabilidades fossem realizadas da forma mais disciplinada possível. Mais, uma vez, não estamos valorando se é bom ou ruim, mas quem se aproximou das práticas produtivas de bens e serviços sabe o quanto a pá e a administração científica ampliaram a produtividade e, por meio disso, liberaram ou tornaram dispensáveis milhares de cavadores de trincheiras.
Hoje a Administração Pública, em especial nosso Tribunal do Trabalho, vive uma incessante perda de servidores e de introdução novas tecnologias no campo informacional, simbolicamente representadas pelos computadores que descansam em nossas mesas. E com certeza os ganhos da segunda compensaram a inexistência dos primeiros de forma que ainda fornecemos um ótimo serviço a nossos usuários. Quem convive com os servidores da área de TI percebe que eles vivem numa busca frenética pela melhoria daquilo que foi lançado hoje pela manhã. Talvez eles, como comunidade existente em todo o mundo e que têm maneiras próprias de raciocinar, só descansem quando encontrarem a solução para o problema da Inteligência Artificial, não esses programas montados em algoritmos que parecem adivinhar o que queremos. A IA, no universo de quem procura, parece-me aquela a máquina que torna o ser humano absolutamente obsoleto. Depois dela nada sobrará que distinga homens de máquinas.
Tudo isso nos leva a uma das questões que nos defrontamos hoje na Administração do Tribunal: como introduzir uma máquina ou um sistema informatizado, para ficarmos apenas nas máquinas e programas que rodam neles, sem que passemos a ideia de estamos ficando atrasados ou, no limite, inúteis. A introdução do PJe eliminou uma imensidão de atividades e vimos muitos de nossos queridos amigos partirem por não conseguirem lidar com essa inovação. Atualmente estão sendo introduzidos “robôs” que eliminaram, eliminam e eliminarão tantas outras atividades. Como vamos viver com essas realidades sem nos imaginemos pessoas descartáveis? Um objetivo aparentemente ingênuo, mas, necessário se quisermos sobreviver como uma instituição saudável.
Desembargador Fábio Farias é ouvidor do TRT-6 e gestor regional do Programa Trabalho Seguro (Getrin6)