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Diretor e heroína retratada no filme Pureza participam de debate e cine sessão no TRT-6


Quando o filme “Pureza” estreou no cinema em maio deste ano, já havia recebido impressionantes 28 prêmios nacionais e internacionais. Com direção de Renato Barbieri e protagonizado por Dira Paes, o filme é baseado na história de Pureza Lopes Loyola, figura fundamental para denunciar a escravidão moderna no Brasil e para a criação do Grupo Especial de Fiscalização Móvel que, entre 1995 e 2021, foi responsável por libertar mais de 50 mil trabalhadores escravizados.

Após o desaparecimento de seu filho caçula, Pureza partiu em uma jornada que durou três anos até reencontrá-lo. Em sua trajetória, conheceu a exploração no campo: pessoas com 20, 50 anos de trabalho, sem receber remuneração, sem poder voltar para casa e vivendo em condições precárias e de muita violência. Além da extenuante procura, sua luta também foi para ser ouvida, para provar que os seus relatos eram reais. As suas inúmeras denúncias culminaram no reconhecimento da escravidão moderna no Brasil e na criação de mecanismos de combate. Ela recebeu diversas homenagens por causa de suas contribuições, inclusive com o Prêmio Anti-Escravidão da Anti-Slavery International, em Londres.

No dia 18 de novembro, o Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região recebeu Renato Barbieri e Pureza Lopes Loyola para uma sessão do filme e posterior painel de debate. A participação se deu dentro do Seminário Internacional - Tráfico de Pessoas no Brasil e nos Estados Unidos: desafios e perspectivas, promovido pelo Escritório de Monitoramento e Combate ao Tráfico de Pessoas do Governo Americano (The Freedom Fund), em parceria com o TRT-6 e com a coordenação geral do desembargador Paulo Alcantara.

Pureza Lopes falou sobre a sua jornada e apresentou fotografias e recortes de jornais que noticiaram o caso. O material data dos anos 90, quando tudo aconteceu. Durante o debate D. Pureza sentada ao lado do desembargador Paulo Alcantara começou a mostrá-lo jornais e fotos da época. Ao ver esse rico e frágil acervo, o desembargador se prontificou a restaurar  e digitalizar para garantir a longevidade e acesso de materiais que considerou parte da história do combate às formas análogas à escravidão no Brasil. O magistrado é membro do Comitê Estadual Judicial de Enfrentamento à Exploração do Trabalho em Condição Análoga à de Escravo e ao Tráfico de Pessoas do CNJ em Pernambuco. Os trabalhos de recuperação iniciaram nesta semana.

Pureza Lopes contou que entende que recebeu uma missão de vida, mas que teria sido mais fácil se tivesse encontrado pessoas dispostas a lhe ouvir, a acreditar nas suas denúncias. Ela recorreu a delegados, políticos e outras várias autoridades, mas foram poucos os que a ajudaram. O padre Flavio Lazzarin, assessor da Comissão Pastoral da Terra, foi um desses aliados. “A cruz foi pesada para eu carregar sozinha. Se cada um carregasse um pouco não ia machucar tanto”.

“Foi pesado pra mim, não chorei, não gemi, não xinguei, levei calada. Minha alma dizia 'Tu vai buscar teu filho! Vai trazer ele pra dentro de casa!’. Botei toda a minha fé em Deus e segui”, falou Pureza Lopes a uma plateia emocionada.

Ela relatou que passou fome, andava horas na estrada, dormia onde dava (no chão, na pedra) e viu e escutou uma série de violências que, até hoje, tiram o seu sono. Usou inúmeras estratégias para entrar nas fazendas e conversar com trabalhadores para ver se algum deles conhecia seu filho Abel - de quem sempre levava uma foto. Ela também perguntava quanto de salário eles tiravam e a resposta era a mesma: nada. O “salário” era consumido pelas dívidas no armazém da fazenda, onde tudo era vendido por valores abusivos. Pureza fugia se embrenhando nas matas ou mesmo sob mira das armas dos jagunços.

Hoje, ela vive uma vida tranquila, junto de sua família, em sua casa no Maranhão, mas conta que não tem nenhuma pensão ou aposentadoria e o auxílio que recebe é das pessoas próximas, geralmente mais humildes. Em dezembro, ela e o diretor Renato Barbieri devem comparecer ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), para um evento em comemoração ao Dia Internacional dos Direitos Humanos (“Juntos contra o tráfico de pessoas e o trabalho escravo contemporâneo”).


Questionado sobre como a história de Pureza Lopes entrou em sua vida, Barbieri explicou que já trabalhava com conteúdo audiovisual de impacto desde 1985, dirigindo documentários - o primeiro deles foi “Do outro lado da sua casa” - e via um papel importante no cinema de impacto para sensibilizar as pessoas e expor tragédias e urgências contemporâneas. O tema da escravidão já havia permeado suas obras, por exemplo em “Atlântico Negro: Na Rota dos Orixás” e “Terra de Quilombos - Espaços de Liberdade” e ele desejava continuar a trabalhar temas sociais em seu segundo filme de ficção.

Quem lhe apresentou a jornada de Pureza foi o fotógrafo Hugo Santarém, que já havia concluído uma pesquisa sobre ela. “É isso que eu quero fazer, é essa a história que estou procurando”, pensou o cineasta quando leu a pesquisa. O primeiro encontro com Pureza Lopes foi em 2007 e a produção do filme levou 12 anos. O intervalo envolveu pesquisa, entrevistas e visitas em locais onde houve exploração do trabalho escravo.

Para ele, Pureza percorre a jornada da heroína, que transcende ela mesma e beneficia o coletivo. “É uma figura ímpar, completamente marcante, determinada, movida por um amor transbordante”, comenta o diretor.

Ao avaliar como o alcance do filme irá contribuir com a redução do trabalho escravo e resgate de pessoas que sofrem nessa situação, Barbieri explica que a produção é uma caixa de ressonância a Dona Pureza, capaz de trazer para a visibilidade algo que está na invisibilidade. Contribui tanto para sensibilizar, como para alertar pessoas que estão mais suscetíveis ao aliciamento. Ele conta que já foram feitas mais de 50 sessões sociais em áreas vulneráveis para a pessoa entender a dinâmica escravista, as falsas promessas, o início das dívidas com hotel e transporte para o novo emprego.

É possível denunciar fazendo ligações para o número 100 ou registro no Sistema Ipê - plataforma do Governo Federal -, ou ainda diretamente ao Ministério Público do Trabalho . O registro pode ser feito de forma anônima.

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Matéria de teor meramente informativo, sendo permitida reprodução mediante citação da fonte
Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT-6)
Coordenadoria de Comunicação Social (CCS)
imprensa[at]trt6.jus[dot]br
Texto: Helen Moreira / Fotos: Roberta Mariz, Elysangela Freitas e Paulo H. Alcantara [Cortesia]