Publicada em 29/09/2025 às 11h55

Neste mês, a Seção de Saúde Mental e Serviço Social e o Subcomitê de Atenção Integral à Saúde do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região, em parceria com o Programa Trabalho Seguro/Getrin6, estão promovendo o Setembro Amarelo: #SejaOFarol, campanha de conscientização sobre a prevenção ao suicídio. Semanalmente, estão sendo publicados textos, no portal e na intranet, sobre a promoção da saúde mental, com informações embasadas em pesquisas e orientações de profissionais da área. Nesta última postagem, confira as correlações entre vivências traumáticas e comportamentos de risco.
Marcas que não se veem: estrutura emocional, violência e risco invisível
Ninguém nasce sabendo lidar com as próprias emoções. A estrutura emocional de uma pessoa — sua capacidade de reconhecer sentimentos, tolerar frustrações, pedir ajuda, estabelecer vínculos e confiar no mundo — se forma ao longo da vida, especialmente nos primeiros anos. Esse desenvolvimento é profundamente influenciado pelas experiências relacionais, pela segurança afetiva e também pelos contextos em que se vive.
Quando uma criança cresce em um ambiente onde há cuidado, acolhimento e previsibilidade, ela tende a internalizar recursos emocionais que a ajudam, mais tarde, a lidar com os inevitáveis desafios da vida. Mas, quando a infância e a adolescência são marcadas por violência — seja ela física, sexual, psicológica ou mesmo negligência emocional —, esse processo pode ser profundamente abalado.
A exposição prolongada à violência desorganiza a percepção de segurança no mundo e em si mesmo. Ela pode comprometer o senso de valor pessoal, a capacidade de confiar nos outros e a noção de que há saída possível para a dor. São marcas que não aparecem de forma imediata, mas que se infiltram na maneira como uma pessoa se relaciona, se protege, se reconhece e busca ajuda.
É nesse ponto que começamos a entender algumas correlações entre vivências traumáticas e comportamentos de risco, incluindo o comportamento suicida. O suicídio, longe de ser um ato impulsivo ou “inexplicável”, muitas vezes, é o desfecho de um sofrimento acumulado, persistente, que se tornou insuportável. Quando não há repertório emocional disponível ou apoio adequado, a dor psíquica pode parecer maior que qualquer possibilidade de solução.
Um estudo desenvolvido pelo Departamento de Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli, a Fundação Oswaldo Cruz (Claves/Fiocruz), a ONG Vivo International, o Programa de Pós-Graduação em Neurologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, e o Departamento de Psicologia da Universidade de Konstanz, na Alemanha, indicou que pessoas expostas à violência — especialmente quando ela ocorre na infância — apresentam maior vulnerabilidade ao desenvolvimento de transtornos mentais como depressão, ansiedade, uso abusivo de substâncias, além de comportamentos autolesivos ou suicidas. Isso não significa, contudo, que a violência determina o futuro de alguém, mas sim que aumenta o risco e exige um olhar mais atento das redes de apoio e cuidado.
Prevenir o suicídio passa, então, por algo maior do que apenas ensinar a “procurar ajuda”. Implica construir ambientes mais seguros, relações mais cuidadosas e instituições mais sensíveis às trajetórias individuais. Implica, também, reconhecer que a dor que leva alguém ao limite, muitas vezes, começou muito antes, e que oferecer suporte emocional hoje pode ser o fio que reconstrói a confiança no amanhã. Neste Setembro Amarelo, que possamos lembrar que escutar a dor do outro é mais do que empatia: é compromisso com a vida. E que a prevenção começa cedo, quando decidimos cuidar não só dos sintomas, mas das histórias que os antecedem.
Psicóloga Michelle Rangel
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Texto: Seção de Saúde Mental / Imagem: Eduardo Aguiar


