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Pandemia Covid-19: Estresse e problemas bucais

A odontóloga Trícia Pires, da Seção de Odontologia/Núcleo de Saúde do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT-PE), produziu um texto que traça a relação entre o estado emocional das pessoas nesse período de enfrentamento do novo coronavírus com a saúde bucal. Segundo ela, o estresse e o medo, por exemplo, podem vir acompanhados também de doenças dentárias. Confira:

Pandemia COVID -19: Estresse e problemas Bucais

A pandemia de COVID-19 pode ser estressante para a maioria das pessoas, causando fortes emoções como medo, ansiedade e solidão. Sabe-se que o estresse pode contribuir de diversas maneiras no desenvolvimento de doenças bucais. O estresse pode motivar os indivíduos a negligenciar adequados padrões de alimentação e higiene oral. Ainda, pode aumentar a produção e liberação do hormônio cortisol, o qual pode levar à diminuição da produção de saliva e da capacidade de proteção contra infecções. Portanto, o estresse pode contribuir com a incidência de disfunções nas articulações temporomandibulares, bruxismo, cáries, doenças periodontais, perdas dentárias e de lesões por herpes simples. Além disso, por estar relacionado com um maior consumo de álcool e cigarros, o estresse pode também estar associado ao desenvolvimento de câncer bucal. O exercício físico, a prática de meditação e a ajuda profissional especializada podem amenizar o estresse durante este período.

Estresse mental e instabilidade psicossocial podem se somatizar como doenças fisicamente diagnosticáveis. Seus sintomas e sinais estarão associadas a uma condição psicológica, tal como pode ocorrer com a ansiedade. Somatização é o termo médico usado para a expressão corporal do estresse e ou de algumas emoções. Um exemplo de somatização ocorre quando o sistema nervoso central interfere nos níveis hormonais produzidos nas glândulas suprarrenais, desregulando os corticosteroides liberados pelas suas células. Em cima de cada rim, como um chapéu, tem a glândula suprarrenal. Na sua cortical, as células produzem substâncias e as colocam no sangue. Substâncias produzidas em um local com ação em lugares longe de sua origem, são chamadas de hormônios e os das glândulas suprarrenais são os corticosteroides.

Qualquer estresse agudo, rápido e intenso, aumenta muito a produção de corticosteroides. Hormônios suprarrenais controlam e aumentam a formação de glicose a partir das proteínas e lipídeos. Sem ela não tem ATP e sem ele, não tem atividade celular. A glicose é combustível das células e sem ela tudo fica lento e funcionando mal. No estresse agudo o organismo prioriza a sobrevivência. Frente a um leão ou outro perigo súbito, a glicose será apenas para os músculos e cérebro: para lutar ou fugir! O corpo deve pensar e agir rapidamente e outras funções ficam negligenciadas, mas é por um período curto e não tem problemas. Em minutos, tudo volta ao normal.

Uma das coisas que mais atrapalha e bagunça o sistema imunológico é o estresse crônico, aquele em que a pessoa tem estresses agudos várias vezes e todos os dias, liberando corticoides em taxas elevadas e os corticoides seguidamente aumentados, desregulam o sistema imunológico. Vira um estresse crônico!

E NA BOCA !

A boca pode ser sede de doenças induzidas pelo estresse como:

1. Lesões autoimunes como aftas, líquen plano, lesões liquenoides e língua geográfica;

2. Lesões bucais associadas à oportunidade da imunidade alterada pelo estresse e que alguns vírus aproveitam para saírem dos seus estágios de latência, como ocorre com o herpes simples recorrente e o zoster;

3. Alterações por certos atos repetitivos decorrentes do estresse, os tecidos moles se alteram secundariamente como na língua crenada ou serratoglossia, mucosa mordiscada, úlcera factícia e queratose friccional; e,

4. Alterações por certos atos repetitivos decorrentes do estresse, também os dentes se alteram secundariamente como no bruxismo e apertamento, trauma oclusal por sobrecarga, atrição dentária por onicofagia, erosão por alimentação, bulimia, anorexia nervosa e refluxos, além da síndrome da ardência bucal.

Bruxismo, desgaste acentuado por movimentos involuntários desencadeadas pelo estresse.

Foto do arquivo próprio Trícia Paiva.

Principais problemas para a saúde da boca nesse período de pandemia para as crianças

Por conta da pandemia atual e a mudança na rotina, há uma preocupação, principalmente, com as lesões cariosas, os desgastes dentários erosivos e o traumatismo dentário. Os dois primeiros estão ligados aos hábitos alimentares, enquanto o terceiro diz respeito mais a nova dinâmica de confinamento constante, este tendo as crianças como destaque, que, ao sofrerem quedas batem a boca ocasionando traumatismo dentário.

Os adultos obviamente sofrem com cáries, mas são os pequenos que mais sentem os efeitos neste momento. As crianças estão mais tempo dentro de casa por conta da quarentena, ficando a cargo dos pais manter ou não a rotina regrada de antes. Consequentemente, acabam bebendo mais sucos de caixinha, comendo mais balas, chocolates e doces, que acompanhado de menor monitoramento paterno na higiene bucal, causa o aumento da incidência de cáries. Esse cenário é bem diferente de quando a rotina da criança já estava programada, com horários muito bem estabelecidos pela escola.

A questão dos desgastes dentários erosivos, está ligado também com os hábitos alimentares desregrados da quarentena, com consumo excessivo de líquidos ácidos e industrializados, como: refrigerantes, chás, água com limão, e sucos de caixinha e em pó. Agora seria o momento de aproveitar que a família está reunida e inserir o consumo de água natural, principalmente para as crianças. Afinal, existem doenças diretamente ligadas a questão da alimentação: diabetes, problemas circulatórios e sobrepeso são, também, reflexos de maus hábitos alimentares.

Já o terceiro, e último item da lista, o traumatismo dentário, é quase que exclusivo do mundo das crianças, que confinadas, não tem opção ao não ser brincarem dentro de casa. E com isso, há riscos de queda e acidentes, já que geralmente não é um espaço muito amplo e ideal, rodeado de móveis, piso escorregadio, representando um perigo. As crianças dentro de casa continuam brincando, pulando em cima de cama, mordendo e levando o brinquedo à boca (principalmente na fase oral de 1 a 1,5 ano) que na queda podem acabar tendo algum tipo de traumatismo dentário. O melhor seria, se possível, afastar e retirar alguns móveis dos ambientes, realocando e replanejando os espaços, além do uso de tapetes nos pisos escorregadios.

Fratura Dental por trauma. Foto do arquivo Trícia Paiva

Vamos nos cuidar!

Referências

Gabriel Cillo e os docentes Marinella Holzhausen Caldeira, da Disciplina de Periodontia do Departamento de Estomatologia, e Marcelo José Strazzeri Bönecker, da Disciplina de Odontopediatria do Departamento de Ortodontia e Odontopediatria. Faculdade de Odontologia Universidade de São Paulo FOUSP;

Prof. Alberto Consolaro atualmente ensina na graduação da FOB e na pós-graduação da FORP-USP nos Programas de Odontopediatria e no de Periodontia e Cirurgia.